2 de out. de 2015

Ai que luxo!!! Você mora na Alemanha (ou EUA, Suiça, Japão,etc...)

Oiiiiiiiiiiiiiii gente! Tudo bem?

Estão com saudades de mim? Porque eu estou com saudades imensas de vocês, daria para atravessar o atlântico com ela de tão grande.

Não vou nem contar que é por causa do bendito do alemão que vem me deixando cada dia mais doida, porque vocês já leram tanto disso aqui que podem acabar nunca querendo estudar alemão na vida. Mas calma lá meu povo, é a minha dificuldade pessoal, sempre fui a boa aluna de matemática que detestava português, então é bem certo que eu vou ter dificuldade com quaisquer outras línguas que eu precise estudar na vida. O importante é ser persistente, um dia eu acabo vencendo ela.

Pra comemorar o meu regresso, vim falar para vocês de um assunto que me incomodou muito desde o primeiro momento que decidi me mudar, que é esse pensamento tolo que alguns brasileiros tem de achar que é chique/luxuoso morar em outro país.

É claro que tem uma pequena parte da população, bem favorecida de dinheiro, que se muda para Paris, Miami, Tóquio, Roma ou pra ponte que partiu, e vai viver divando com tudo de bom que o seu rico dinheirinho pode comprar. Mas isso e um grupo muito pequeno e seleto, considerando que a grande população brasileira é pobre e trabalha muito para sobreviver, ainda mais no país que temos hoje...

Não tem nada de chique em deixar sua mãe chorando na rodoviária, sem saber quando você vai poder ter aquele colo novamente. Não tem nada de chique em se privar da companhia dos seus amados amigos, aqueles de verdade que ajudam a colher seus cacos quando caem ao chão ou que te mandam ir se f*d&r quando você precisa. Não tem nada de chique abrir mão da sua casa, sua cama, seu canto favorito, seu cachorrinho amado, sua gatinha que você tanto quis ter. Não tem nada de chique em deixar seu mundo inteiro para traz para no dia seguinte entrar em um mundo completamente novo e desconhecido... Porque sinceramente a sensação que geralmente eu sinto é que meu cérebro foi amputado e ficou no Brasil, que sobrou uma pequena parte dele (aquela responsável por comer e dormir, porque disso eu nunca me esqueço). E que eu preciso me virar com esse pouquinho de cérebro que tenho para aprender tudo de novo, do zero. Alimentar ele com informações todos os dias para ver se algum dia ele se regenera e volta a ser o que era.

Todos os brasileiros que conheci ou conversei aqui, são guerreiros atrás de uma sobrevivência melhor e que não tem nada de luxo na vida deles. Todos saíram atrás de algum tipo de sonho e estão "comendo muito capim" na tentativa de realiza-lo. São pessoas que tem três empregos para tentar juntar uma grana e visitar a família no Brasil uma vez por ano. São pessoas que comem arroz com ovo (tá mais para batata com ovo, já que aqui o povo não é lá muito de arroz) para poder estudar. São pessoas morando em casa de parentes e tendo que "engolir sapos" do tamanho de cachorros para não desistir dos seus sonhos. Guardando o diploma brasileiro na gaveta e sendo diarista, babá, cuidador de cachorro...

Tirando os ricos e milionários, os comuns mortais aqui geralmente não tem empregada doméstica. Cada família lava, passa, limpa, cozinha, arruma, faz as compras, armazena, etc para si mesmo. E não há problema algum nisso, as casas geralmente são limpas e organizadas.

E o que a maioria de quem ficou no Brasil pensa é, ah mas você ganha em euro, e o euro hoje vale mais de quatro reais. Claro, vale muito em relação a nossa moeda, mas se você vive em uma região que utiliza o euro, você recebe sim salário em euro, (e pode até multiplicar mentalmente seu salário quatro vezes e pensar, nossa meu salário no Brasil hoje seria maravilhoso). Mas não pode se esquecer de multiplicar também seu aluguel, conta de água, luz, comida, transporte, impostos, tudo igualzinho em quatro vezes. Porque se recebe em euro, dólar ou outra moeda, mas também se gasta na mesma moeda. As pessoas só se lembram da conversão favorável da receita, mas se esquecem da conversão dos custos.

fonte:https://rasecenemys.wordpress.com

Acredito que a única parte chique de verdade de se viver em países desenvolvidos seja o fato de o básico para a população funcionar melhor do que no Brasil. Exemplo? Ontem eu voltei a noite sozinha do shopping e passei por vários locais com pouca iluminação (Hamburgo tem muita árvore, um número absurdamente grande, acho que são 4 árvores por habitante da cidade, logo a pouca iluminação não é ausência de infra estrutura e sim excesso de vegetação), eu senti medo? Claro! Eu sou brasileira amor, eu fui assaltada não sei quantas vezes, todas as minhas amigas foram assaltadas não sei quantas vezes. Graças a Deus um tarado maníaco nunca atravessou meu caminho, mas essa cidade floresta seria perfeita para eles, então sim eu olho para todos os cantos procurando o perigo porque isso faz parte da minha cultura de auto preservação. Mas eu vejo algo estranho? Nunca! Alguém se quer mexe comigo? Não. Nem cachorro te da confiança aqui.

Infelizmente ter segurança tem sido um luxo para mim, mas não deveria ser assim só porque eu moro aqui, os impostos que pagamos no Brasil pagaria uma segurança tão boa quanto ou talvez até melhor que a alemã. E porque é mesmo que existe tanta criminalidade?

Lagoa Astler em Hamburgo

Outras partes chiques de se morar fora, além da segurança que sinto, são:
* A saúde funcionar bem, todo cidadão (apesar de ser obrigado a pagar um plano de saúde) tem atendimento médico de qualidade.
* O transporte público funciona bem, ônibus e metrôs limpos, em perfeito estado de conservação e pontuais. Pego o ônibus todos os dias sagradamente as 8:22 da manhã. Quando perco ele por lerdeza minha, o próximo passa as 8:26. Meu metrô (seguido do ônibus) em quase seis meses que moro aqui, atrasou uma única vez por dez minutos. Já ouvi reclamações sobre o transporte publico em Berlim e em outras partes da Alemanha, mas a minha experiência pessoal é que funciona perfeitamente.
* A riqueza cultural e intelectual que se adquire morando em outro país, vivenciando outra cultura. Você realmente aprende outra forma de viver e de olhar para a vida. Você se descobre tão hipócrita em alguns pontos que é difícil se aceitar, e passa a dar valor as pequenas coisas.

Mas gente, o que é que tem de chique ou luxo nisso? Isso tudo é um mínimo que nós deveríamos ter para sobreviver na nossa casa. Ninguém deveria precisar sair de casa para se sentir protegido, para conseguir colocar o pão na mesa com dignidade, para ter um médico que te examine de verdade ao invés de te olhar e diagnosticar virose. Nós pagamos por isso tudo a anos e não recebemos nada de volta e aceitamos numa boa...

Alster e seus patos, garças e pombos...

Os escândalos políticos viram piadas pra gente, quando deveriam ser tratados como a coisa mais séria do mundo. Aceitamos desvios de dinheiro, aceitamos auxílio paletó, aceitamos auxílio moradia, aceitamos aviões da FAB indo e vindo com políticos, aceitamos corrupções absurdas... Tudo isso com o nosso dinheiro. Não sou partidária, não defendo partido algum e nem político algum porque não tenho compromisso com o erro e posso mudar de ideia quantas vezes eu errar. Mas acho que realmente não tem nada de chique ter que vir morar longe de tudo que mais amo na vida porque meu marido tentou morar no Brasil por dois anos e não conseguiu emprego. Porque o meu emprego que eu tanto amava na Usiminas, acabou.

Mudar de país porque sempre foi um sonho, porque você quer estudar naquele determinado lugar, porque você quer aprender outra língua e cultura, porque você simplesmente quer! Tudo bem. É lindo, vai ser um pouquinho difícil até pegar o jeito mas você vai conseguir e vai ser muito feliz. Mudar de país porque você não vê mais condições de viver no seu próprio meio não é chique, nem glamouroso, é triste e lamentável.

Então povo, dá um tempo com essa mentalidade de achar que só rico viaja, porque pobre divide em dez vezes no cartão de credito mas viaja também. Que só rico mora fora, porque pobre se ferra todo, trabalha feito burro de carga mas mora fora também. Quando conhecer ou encontrar alguém que mora fora, pode mostrar sim a sua vontade de fazer o mesmo, pode dizer o quanto você pensa que essa experiência é legal e agrega cultura, pode falar que para você felicidade na vida seria caminhar a pé para o trabalho só para passar em frente a torre Eiffel. Pode mostrar toda a sua empolgação, mas não rotule de chique, luxo, ideal de vida, nata da sociedade... Porque para aquela pessoa pode simplesmente ser o contrário.


E você que já morou fora, já passou por isso? Odiava ou amava? Há quem gosta de se fazer de rico mesmo comendo pão de ontem, essa não sou eu.
E você que já rotulou alguém que mora fora sem saber a realidade da pessoa, vai pegar mais leve na próxima?
E você que pensa em morar fora um dia, já parou para avaliar a realidade por detrás da fantasia?
Contem aqui nos comentários as suas experiências e vamos enriquecer o post.

Lembrem-se sempre que esse é o meu ponto de vista, é a minha opinião mortal e particular. Não sou detentora da verdade absoluta, não falo pelos demais 7 bilhões de pessoas no mundo e sou suscetível ao erro como todo mundo. Também lembre-se sempre de clicar em seguir esse blog e indicar o post para aquela amiga que esta precisando de ler exatamente isso.


Um comentário:

  1. Ahhhh, que saudade da sua letrinha!
    Quando estamos de fora tudo parece mais simples, né?
    Uma pena mesmo o Brasil não ter esse tanto de coisa que você falou, porque teríamos condições, se não fossem as mazelas políticas...
    Que apesar dos pesares, você fique bem por aí, até quando tiver que ser.
    Bjs
    Ju Freitas

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